O Presidente do Brasil, J. Bolsonaro, diz que quer acabar com as faculdades de
Filosofia e de Sociologia. Segundo traduzo o seu
pensamento, estas disciplinas não produzem economia. O
que importa, para ele, é criar bens que tragam
mais-valia, que produzam impostos… O resto não
interessa! Informa o Sr. Bolsonaro que «O ministro da
educação estuda descentralizar investimento em
faculdades de filosofia e sociologia (...) O
objectivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao
contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina» Twiter (26.04.2019).
Num
Twiter, no mesmo dia, acrescenta, ainda, Jair M.
Bolsonaro, «a função do governo é respeitar o dinheiro
do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, a
escrita a fazer conta e depois um ofício que gere
renda...».
Subtrair
estes cursos das faculdades é o mesmo que criar
"formados" com mentes destorcidas, que seguem o mestre, o
demagógico, o autoritário, o incapaz de ouvir uma ideia
contrária; e assim, projectar um país embrutecido. Uma
sociedade precisa de ideias e de pensamento livre e crítico. Um
povo que não tem ideias nem pensamento crítico é um povo
adormecido, incapaz de lutar pelos seus ideais e
direitos.
Mas será mesmo verdade que o pensamento não
produz economia? Para os ignaros, não. Tudo nasce como
os cogumelos, espontaneamente do seio da terra.
Em Portugal também já têm surgido alguns sábios com este
tipo de pensamento, embora não tão radicais como
o presidente J. Bolsonaro.
A propósito desta temática, ocorreu-me um texto que
escrevi em «Para que serve a Filosofia», de 2010), que
transcrevo:
«Suponha que ao ler estas linhas, por algum motivo, se
instala a dúvida no seu espírito. Uma dúvida daquelas
que deixa a cabeça às voltas a qualquer um, como por
exemplo uma dúvida existencial, ou uma dúvida de amor,
que o dinheiro é incapaz de esclarecer; Que mais
desejaria, então, o esclarecimento da dúvida, de que já
nos falara Descartes, ou uma bolsa cheia de moedas?
Se optasse pelas moedas, que em breve consumiria, as
dúvidas continuariam a torturar o seu espírito; ao
invés, se preferisse esclarecer a dúvida, ficando sem as
moedas, significaria que desejava procurar a verdade.
Este passo é muito importante: a busca da verdade, o seu
esclarecimento e a satisfação e conforto por a ter
descoberto, traz consigo a tranquilidade espiritual.
Esclarecer a dúvida é procurar a verdade. É por isso que
os filósofos dizem que uma das mais importantes fontes
de felicidade sustenta-se na busca da verdade e no
prazer e alívio de a ter descoberto. Eis a razão por que
os filósofos a buscam constantemente. Mas quem não
deseja encontrar a verdade? Todos a procuramos, tal como
todos queremos ser felizes.
Mas não se ignora que para algumas pessoas apenas os
bens materiais contam, desconsiderando que os bens
espirituais completam o ser humano.
Mas quem se ocupa de filosofia reconhece, se não, não se
dedicaria a tal empreendimento, que os bens do espírito
são tão necessários quanto os bens do corpo.
Ora, se os bens materiais alimentam o corpo e os
desejos, o poder e a vaidade; os bens do espírito são a
claridade que nos desvia dos atalhos mais agrestes e
sombrios, nos indicam o caminho e nos fazem intuir a
realidade verídica da vivência humana. É nesta dimensão
que encontraremos a utilidade e o valor da filosofia»
(António A. B. Pinela, Reflexões, 2019)
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