Falaram-me há dias do
sentido.
Que é para ti o sentido?
Que sentido?
O sentido que faz sentido!
Referes-te ao sentido da
vida e das suas contradições?
Sim. Achas a vida que tem sentido?
Creio que falas do sentido
de viver, de ter, de ser, de aprender e de estar…
Sobretudo de aprender e de
Ser.
Naturalmente que aprender e
Ser faz sentido!
Mas diz-me, existe
diferenças entre aprender e ser?
Ou seja, para aprender é
necessário Ser, achas que isto tem sentido?
Com certeza!
Se não aprendemos, como
sabemos!
Mas sabemos alguma coisa?
Que cepticismo esse, homem!
Porque aprendemos, sabemos.
Mas porque sabemos, também aprendemos,
O que me parece que faz
todo o sentido!
De que coisas aprendemos o
sentido?
Homessa!
Aprendemos o sentido da
Geografia e da Economia,
Do Português, do Inglês, do
Latim, do Grego e do Francês.
Da Gramática, da
Linguística e da Matemática.
Da Biologia, da Física, da
Mecanotecnia e da Sociologia.
Da Agricultura e da
Filosofia.
Que mais devemos
aprender?
Outros saberes que nos
indiquem o lugar do nosso Ser!
Sabes, por acaso, onde
vivo?
Não sabes?
Eis o meu endereço:
O meu nome é
António
Resido numa Rua de uma
pequena Cidade,
Lisboa é a Capital,
Portugal é o meu País,
A Europa é o Continente,
Terra, o Planeta,
Um dos nove (?) do Sistema
Solar,
Do qual dista cerca de 150
milhões de quilómetros.
O Sol, o Sistema a que
pertenço,
Dizem os Sábios, é a
estrela que se encontra mais perto de mim.
Por seu turno, o Sistema Solar está
inserido numa Galáxia que contém aproximadamente 100 milhões de
estrelas, cujo centro é constituído pela Via Láctea.
Podem, ainda, endereçar-me
a vossa correspondência para este sítio,
Que é uma Nebulosa, ou
faixa esbranquiçada,
Que se vê, no Céu, em
Noites claras, que resultado de uma multidão de estrelas.
A centenas de milhões de
anos-luz existem outros sistemas, separados do nosso pelo Vazio,
Distribuindo-se pelo Espaço
infinito, como pequenas ilhas num Oceano Imenso…
Mas se não me encontrarem
em nenhum destes lugares,
Há outras possibilidades,
há sempre mais uma possibilidade:
Enviem o vosso correio
para o Infinito,
Que Aristóteles sustentava
a impossibilidade de se conhecer,
Mas que Demócrito dizia que
era o Espaço Vazio.
Já que vos dei o meu
endereço,
Espero por notícias vossas!
Agora já sabem onde estou.
Mas sabeis quem sou?
Sófocles afirma que
“Nada é mais
maravilhoso do que o homem”.
Eu sou um
homem.
Nietzsche defendia que o
homem é
“O animal que
não se define nunca”.
Fico confuso!
Karl Jaspers, usando de bom
senso, defende que o
“Homem é, em
princípio, mais do que pode saber de si”.
O que me
conforta.
António Gedeão diz de nós
“Inútil definir
este animal aflito.
Nem palavras,
Nem cinzéis
Nem acordes
Nem pincéis
São gargantas
deste grito.
Universo em
expansão.
Pincelada de
Zarcão
Desde mais
infinito a menos infinito.”
Nada esclarecedor!
Já sabemos também quem sou.
Mas não fica saciada a
minha curiosidade,
Que é fonte de saber:
Lembram-se?
Falámos de algumas
disciplinas
Que não me disseram de
onde venho,
Que caminhos serão os meus,
és capaz de me esclarecer?
E sem te querer aborrecer, usando o teu saber,
Diz-me para onde vou?
Que projecto é o meu
Destino?
E se não sou atrevido,
Faz-me mais um favor,
De tudo isto explica-me o
Sentido!
No entanto, se te sentes
embaraçado ― como eu estou ― podemos interdisciplinar;
Façamos uma reflexão
sobre a nossa situação,
Implementemos uma
dialéctica para encontrar a síntese
que nos indique o Caminho, a Rota, a Via,
E quem sabe, se não encontraremos o
Sentido de Tudo Isto com a ajuda da Filosofia.
António Pinela,
Reflexões, Novembro de 1987. |