A
propósito das eleições para o Parlamento Europeu,
vamos já ficando surdos com a gritaria que os
candidatos a eurodeputados vão fazendo. Gritam,
gritam, mas nada esclarecem sobre a importância da
Europa para nós, que afinal, até somos europeus.
Falem da importância do Parlamento Europeu, digam
qual foi o contributo de cada um para melhorar a
vida dos povos na Europa e, por consequência, em
Portugal, etc., etc. Mas sem demagogia, sem vaidades
nem arrogâncias. Isso não interessa ao eleitor.
Talvez vos interesse!
Lalamos um texto que escrevi em 2010:
«No
sentido corrente (ao nível do senso comum), a
crítica é um juízo desfavorável (a crítica é o
contrário de elogio). No entanto a crítica não é
isso. É, antes, um estudo ― uma apreciação ―
destinado a avaliar uma obra, um procedimento, uma
atitude, de modo favorável ou desfavorável,
procurando situar o seu contexto, as significações
expressas ou subentendidas, os tipos de raciocínio,
etc. (façam um comentário crítico deste texto, diz o
professor). A crítica é, portanto, análise,
comentário, estudo ou exame de argumentos, de
razões, de motivos, de textos, de obras de arte, de
factos, de acções, procedimentos, etc., com a
finalidade de formular juízos.
Ao nível
do ensino/aprendizagem, a crítica é um exercício que
deve estar integrada numa lição ou numa actividade
escolar menos formal, a fim de se lhe apreciar o
conteúdo, o método, o valor, a eficácia.
A crítica
é um instrumento fundamental do trabalho
intelectual. Mas criticar não é sinónimo de
maledicência, isto é outra coisa bem diferente, e é
apanágio daqueles que tudo sabem, mas que nada
explicam. Estes são generalistas, que se dizem
críticos de qualquer coisa, e com isso sustentam o
seu espírito, embora apenas produzam repetições e
trivialidades desconexas, por vezes, transferidas.
De modo
simples, a crítica labora da seguinte forma:
1. Análise
da situação seja ela qual for: uma atitude, um
acontecimento, uma ideia, um texto, um fenómeno.
Esta análise pressupõe independência total face a
subjectividades, preconceitos, simpatias e outros.
Se queremos que nos respeitem e ver considerada a
nossa produção intelectual, não temos outra
possibilidade: temos que ser objectivos,
elucidativos, imparciais.
2.
Identificação clara e objectiva de aspectos
positivos e negativos (quando os houver e dizer
porquê) da situação em análise.
3.
Proposta do autor comentador para melhorar a
situação ou compreensão da leitura que faz do
objecto analisado.
4. Tudo
isto, documentado com a análise, a reflexão, as
ideias próprias e as propostas alternativas.
Assim se
faz uma crítica: Analisar, Identificar, Propor,
Documentar. Tudo o resto não passa de fantasia ou de
pretensiosismo desapropriado. Que traz de útil dizer
apenas: «Isso está mal», «Não fez nada» «É
incompetente»?
Quando
produzirmos uma ideia ou um texto, a partir de
análise e reflexão efectuadas, não nos devemos
inibir de recorrer a autoridades sobre o assunto
(outros autores e suas obras, o que disseram…), para
nos documentarmos suficientemente; mas
identifiquemos, claramente, autores e obras
consultadas, a fim de sustentar o nosso trabalho. É
importante que o façamos, pois dará mais
credibilidade às nossas reflexões, e ao nosso nome.
Se formos honestos, quem nos lê ou houve pode não
aceitar os nossos argumentos, mas, por certo,
reconhecerá que não estamos a ludibriar o pensamento
diferente. Assim o entendo e defendo».
António A. B. Pinela,
Reflexões, 2010). |