«Quem não está connosco está "contra-nosco".» Lembram-se desta frase, que
foi pronunciada em Almada, em 1975, já lá vão trinta anos? Há
muita gente que pensa assim! Para estes não pode haver alternativa.
Psicologicamente, denomina-se a este modo de pensar, «pensamento
convergente».
É um modo de pensamento
orientado para a obtenção de uma única resposta a uma situação. O ser
pensante, colocado perante um problema, submete-se a instruções rígidas no
sentido de encontrar uma única solução. O seu comportamento é conformista,
prudente, rigoroso, mas limitado.
Explicitando, toda a
forma de pensar, dos diversos actores, obedece à ordem de comando, daquele
que, ocasionalmente, lidera o grupo.
Quem se atrever a pensar
diferente, mesmo que o seu pensamento enriqueça os pensamentos anteriores,
mesmo que tal pensamento seja lúcido e traga mais valia, não poderá ser
contemplado, porque isso iria contra os ditames do líder e este sentir-se-ia
fragilizado, porque o pensamento vencedor não teria sido o seu. E o chefe
tem que ter pensamentos...
Todavia, o pensamento
convergente, que parecendo muito objectivo, acaba por encaminhar-se para o
unanimismo. Logo, é um pensamento ortodoxo, dogmático, não criativo,
autoritário. E, por consequência, os defensores deste tipo de pensar,
radicalizam-se, não aceitam o debate e, muito menos, a troca de ideias,
porque as suas, mesmo que vazias de conteúdo, são sempre as melhores. É a
incapacidade de reconhecer que o outro, por mais humilde que seja a sua
posição social ou profissional, pode ter rasgos de elevada reflexão e de
produção de ideias. Tais sumidades convencem-se que aos olhos dos outros,
mas sobretudo a seus olhos, são a luz que ilumina as trevas! A tais, eu recomendaria uma reflexão sobre a
célebre frase que imortalizou Sócrates, o pai da Filosofia: «Só sei que nada
sei».
Ao invés do pensamento
convergente, proponho o pensamento divergente, pensamento criador,
mensurável através da resposta a problemas deste tipo: «Que uso se pode
fazer de um Posto Público de Internet?» A pessoa, colocada perante o
problema, procura todas as soluções possíveis, não se limitando à
conformação de uma solução já experimentada, desenvolve as suas respostas
por meio de ensaios e erros, por aproximação experimental.
Mas não termina aqui a
sua tarefa. Encontrada a sua resposta, há agora que a confrontar com as
demais respostas e aceitar, sem melindres, a melhor solução para o problema
em análise. É assim que o conhecimento cresce e os problemas se resolvem. É
isto o pensamento divergente.
Pensamento que inova,
pensamento aberto, receptivo a aperfeiçoamentos, que não menospreza os
contributos seja de quem for, que aproveita as experiências exteriores, o
que elas têm de enriquecimento para o objectivo do nosso trabalho. Por que
não acolher experiências fundamentadas ao longo de carreiras profissionais?
Por que menosprezar o saber de estudo e de experiências feito por pessoas
que sabem mais do que nós em determinadas valências e vivências?
Não tenhamos dúvidas,
podemos conhecer muito bem determinada matéria, mas, é bom não ignorar, para
bem do conhecimento e da resolução das situações, que há sempre alguém
que sabe um pouco mais do que nós em determinado assunto específico. É este
um princípio essencial da humildade do saber.
António Sérgio (filósofo
e ensaísta português) recomendava, na qualidade de aprendiz mais velho, que
não fizéssemos uma só leitura, que escutássemos o que os
outros têm para dizer, que não menosprezássemos a sabedoria alheia... e, então,
decida (António Pinela, Reflexões, Outubro de
2004).
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