Que queremos dizer
quando falamos em «educar» e «ensinar»? Numa primeira abordagem, dir-se-á
que educar/ensinar é a acção espontânea ou sistemática que os adultos –
familiares e educadores – exercem sobre a criança, com o objectivo de os
orientar numa determinada direcção, o aperfeiçoamento da sua existência e da
sua conduta, tendo por fundamento os princípios que são gizados pela cultura
e pelos valores, pelas concepções morais, religiosas, políticas,
económicas e filosóficas de uma comunidade social. Assim, o acto de
educar e ensinar consiste na acção de formar os alunos
rumo ao estado da maturidade adulta. Empregamos os termos «educação» e
«ensino» no seu triplo sentido: intelectual, psicológico e moral, o que
significa que o objectivo primordial da educação/ensino é instruir,
adaptar socialmente e formar o juízo livre e pessoal do adolescente.
Para
alcançar estas metas, formuladas e explicitadas pelas concepções filosóficas
da educação, desenvolvem-se processos de ensino-aprendizagem que visam
possibilitar ao indivíduo o desenvolvimento das suas múltiplas dimensões,
como o despertar de interesses, as capacidades cognitiva, sócio-afectiva,
psicomotora e cultural; o amadurecimento para a vida social, a vontade de
aperfeiçoar o ser, o estar e o existir, ou seja, a preparação para a
mudança. Para tanto, o professor esforçar-se-á, com o seu saber, para que
aluno cresça na sua tendência natural, para que aprenda a orientar-se no
mundo, descobrindo, questionando, pondo em causa, relacionando, criando.
Mas a função
de educar e ensinar não se limita à escola, como os menos avisados pensam e
dizem. Sem dúvida que a escola desempenha um papel insubstituível na
educação dos escolares. E é compreensível que assim seja. Que tempo
disponível resta aos pais para atender, de forma continuada e orientada,
às necessidades educativas de seus filhos? Muito pouco, todos sabemos isso.
Na maioria dos casos, os pais trabalham longe de suas casas e não só chegam
tarde como exaustos devido ao dia de trabalho, à utilização dos transportes,
aos problemas profissionais ou devido, simplesmente, aos problemas que a
relação humana tece. Por outro lado, mesmo que o tempo disponível baste,
quando o indivíduo alcança determinada idade, doze, treze anos, quando não
menos, imagina que os seus progenitores pouco têm para lhes ensinar;
julgando que dominam mais conhecimentos que eles, porque, não raro, os
superam em habilitações literárias.
Este tipo de
comportamento é comum a todos os jovens de todos os tempos. No entanto,
rapidamente o adulto [que já foi jovem] esquece tal, o que é susceptível de
provocar mal-estar entre pais e filhos. Naturalmente que reflectimos de uma
forma geral. Há, evidentemente excepções, que não serão excessivas, onde os
conflitos de gerações se fazem sentir mais suavemente. Também parece que,
por princípio, quanto mais elevado é o nível cultural dos pais, mais se
tende a minimizar os ditos confrontos de vivências, necessariamente
diferentes e, então, a rebeldia saudável da força da juventude é mais
tolerada. Para tanto, concorrem a espontaneidade e a recepção das posições
dialécticas no «confronto» pais-filhos.
A escola não poderá
substituir-se à função da família, no que a esta cabe na função educativa de
seus filhos. A tarefa educativa compete tanto à escola quanto à família, em
planos diferentes, obviamente.
É no seio da
família que se fazem as primeiras aprendizagens. É com ela que até se
aprende o simples acto de comer! Não é a Mãe que tão carinhosamente
ensina o seu bebé a alimentar-se, logo a partir do seu nascimento? São os
pais que, em primeiro lugar, ensinam os filhos a olhar, a ver,
a orientar-se, primeiro no espaço, depois no tempo, e a
encontrar-se quando a idade tudo problematiza, até a própria
existência, etc. São os pais que ensinam os filhos a dizer sim,
quando «sim» significa «querer», «verdade», etc., e não, quando
«não» significa «não querer», «mentira», etc.
A casa familiar é a
primeira e mais importante «escola» que o ser humano frequenta. Com efeito,
exerce importância relevante, para o desenvolvimento ulterior da pessoa
humana, as experiências de aprendizagem que a família proporciona às
crianças no início da sua formação física, psíquica, afectiva, social, moral
e cultural, seja qual for o nível educativo e cultural daquela. (António
Pinela, Reflexões,
Março de 2007). |