A
vida humana, a cada momento, é o resultado ou a soma de
todas as possibilidades conseguidas: possibilidades de
optar, de decidir, de fazer, etc. E à medida que vamos
preferindo opções em detrimento de outras, valores em
detrimento de outros, vamos também orientando a nossa
vida segundo determinados parâmetros e, com isso,
abandonando outras possibilidades, que nunca chegaremos
a saber se seriam melhores ou piores, enquanto desta
forma vamos limitando as possibilidades futuras.
O
nosso campo de acção, à medida que a vida fluí, é cada
vez mais estreito. A nossa liberdade actual está
naturalmente condicionada pelo uso que fizemos da nossa
liberdade passada, que por sua vez limita a liberdade
futura. Um acto de liberdade presente é um compromisso
com o futuro. A liberdade não é uma abstracção, é uma
prática. É uma prática que se reflecte em toda a nossa
vida. Desta feita, comprometido pelas suas opções
passadas, pelas suas paixões e orientações de vida, pela
sua educação e cultura, pelo modo como vê a vida e o
mundo, mas também pela sua constituição física e
psicológica, o homem está cada vez mais limitado na sua
acção. E mais limitado está aquele que se julga, a si
próprio, para
além dos outros, porque não compreendeu nada do outro
nem da vida. Com efeito, o homem está limitado por
várias condicionantes que, em conjunto, condicionam a
sua situação. E como o homem está sempre em situação, e
porque cada situação está limitada por um conjunto de
condicionantes, já não posso alterar a minha
situação actual, porque não posso alterar as situações
que a antecederam. E, não raras vezes, nem o
arrependimento nos pode dissolver a intranquilidade
devida às opções incorrectas que tomámos. O que
quer dizer que a minha vida hoje poderia ser
outra se tivessem sido outras as opções, outras as
vivências, outras as condicionantes, outras as
situações. António Pinela, Reflexões,
Quinta-feira, 26.07.2007 |