Nota-se, frequentemente,
um défice de autoconfiança e de auto-estima em cada um de nós. Aliás, somos
um pouco dados a subestimar as nossas capacidades empreendedoras. Por um
motivo ou outro, facilmente, no tempo que corre, verifica-se o declínio
destes dois motores da vida humana.
Cada um de
nós sabe que existe a nossa afirmação do Eu, ou Ego, independente da sua
definição, que é o que menos importa, neste texto. Sabemos que algo existe e
que nos motiva. Compreendemos que aquilo que ordinariamente entendemos por
autoconfiança é a capacidade de utilizarmos, de aplicarmos essa motivação,
em circunstâncias várias que possam estar a exigir a nossa acção.
Assim, fracassamos no
que concerne a autoconfiança e à auto-estima quando acreditarmos que não
possuímos capacidade para enfrentar uma situação que se nos apresenta ou que
procuramos. A apreensão desta incapacidade, que é o facto básico na falta de
autoconfiança, pode advir de múltiplas causas. Por exemplo, pode resultar do
fracasso e desapontamento que decorreu de um empreendimento que se esperava
resultasse com sucesso. Se o empreendimento era de grande importância para o
indivíduo, o fracasso pode dar origem a um trauma psicológico que pode fazer
com que o EU se torne inibido, portanto, carente da necessária auto-afirmação.
Algumas pessoas são
emocionalmente mais sensíveis que outras ao fracasso, seja ele de pequena ou
de grande monta. Como resultado, fica inibida a sua autoconfiança quando são
obrigadas a realizar outra actividade similar e a iniciar um novo projecto.
Pensa-se, frequentemente, que o fracasso anterior foi devido a alguma falha
não prevista ou a alguma deficiência de planificação, que terá influído
sobre os demais empreendimentos. Assim, a autoconfiança e a auto-estima são
reprimidas.
Portanto, o sujeito da
acção não estando consciente das aptidões que possa ter, a sua confiança em
si mesma diminui. O que é dito traduz-se naquilo a que vulgarmente se
denomina por complexo de inferioridade.
Ora, ninguém pode chegar
antes de partir. Por isso, devemos sempre evitar comprometermo-nos em
projectos para os quais não tenhamos capacidade de realização plena, em
todas as suas dimensões. As situações são sempre transitórias, por isso, não
basta ter capacidade para realizar um dos aspectos do processo. Se o
indivíduo sentir que não domina todos os itens, então terá que se rodear do
que lhe faz falta, sob pena de viver o que não deseja: o fracasso. Este
factor pode rapidamente gerar a falta de autoconfiança.
Nada mais instila
confiança como o sucesso; portanto, se nada empreendemos, nenhuma
possibilidade teremos de alcançar sucesso. Devemos, contudo, ter presente,
que nenhum ser humano é sempre bem sucedido.
Consideremos, agora,
outro aspecto. Contrariamente ao que se possa pensar, a falta de confiança e
de auto-estima pode gerar o seu contrário: excessiva confiança e valorização
da auto-estima, que por sua vez produz o que se denomina a desmedida
valorização do eu ou egocentrismo. É aquilo a que vulgarmente se diz de um
indivíduo que se acha o centro do universo.
Existem pessoas que,
devido aos seus fracassos em várias dimensões, procuram colmatar isso com a
sua super-valorização, querendo impor-se aos outros, subestimando quem os
rodeia. É o protótipo de indivíduo que procura sistematicamente que olhem
para si como único, como o centro da vida. Esta mundividência produz,
geralmente, desequilíbrio psicológico ou psicoses, traduzidas na
incapacidade de relacionamento, na perda do sentido da medida, o que
complica toda a situação envolvente. O indivíduo possuído de egocentrismo
fica incapacitado para vislumbrar outra realidade que não seja a sua. (António Pinela,
Reflexões, Novembro de 2004).
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