«Todos os homens aspiram à
felicidade».
Aristóteles
Como de muitas outras
vivências mais profundas, todos temos uma noção pessoal sobre o que é a
felicidade. No entanto, não é fácil explicar o que é, na sua plenitude, como
não é fácil explicar os conceitos de «verdade», «justiça», «solidariedade».
Normalmente, quando pensamos
em felicidade, atemo-nos aos afectos mais próximos, mas poucas
vezes analisamos atentamente as suas causas: «O que é que nos faz feliz?» E
também raramente colocamos a questão em termos mais profundos: «É possível
que a felicidade (que vivo hoje) seja um estado permanente?»
É fácil confundir felicidade
com bem-estar. Algumas pessoas tendem a interpretar mal o sentido dos bens
materiais nas suas vidas, acreditando que estes lhes trarão a felicidade que
antes não encontraram.
É verdade que os bens
materiais nos proporcionam bem-estar: é mais cómodo ter à porta, ou na
garagem, transporte próprio do que esperar, numa rua ou estrada, pelo
transporte público; é agradável ter uma casa para viver; é necessário que
tínhamos comida para nos alimentarmos. Mas a felicidade não advém
literalmente dos bens materiais.
A felicidade é um conceito
muito mais profundo: significa estabilidade, segurança, amor,
reconhecimento, esperança. Com efeito, a felicidade não é a falta de
problemas ou a ausência de dificuldades. Podemos ser felizes enfrentando uma
dificuldade, porque a felicidade não é algo que esteja ausente de nós, mas
sim um sentimento intrínseco ao ser humano.
Neste sentido, é muito
difícil ser feliz com uma atitude de ressentimento ou de amargura perante a
vida. Não se conseguirá ser feliz se estivermos obcecados por determinados
bens materiais inalcançáveis ou se avaliarmos mal a nossa relação com
outrem.
Viver de acordo consigo
mesmo, não por mimetismo, alicerçado num conjunto de valores adquiridos e
assimilados, proporcionará a estabilidade emocional necessária para nos
sentirmos completos nos limites da nossa finitude.
Com efeito, a felicidade tem
muito a ver com o vazio ou a plenitude do nosso ser e, por consequência, de
nossas vidas no seu sentido mais profundo. A felicidade tem que transbordar
de nós próprios ao nos darmos aos outros: a generosidade na amizade, a ajuda
ao desvalido, o apoio nos momentos difíceis, a compreensão do outro
torna-nos mais felizes e esperançosos.
A fonte mais poderosa para
uma felicidade única corre quando nos damos aos outros. Porque o EU não é
nada sem o OUTRO. Não existe socialmente.
Neste mundo global em que
vivemos, onde impera o luxo e a usura, as novas tecnologias, os telemóveis e
a Internet, é fácil centrarmo-nos em nós próprios e nos nossos problemas,
como é fácil esquecermos os outros. No entanto, façamos a experiência: na
medida em que nos preocupamos mais com os outros e menos connosco próprios
resolveremos dois problemas: o da pessoa que ajudamos e o nosso, porque a
nossa vida ganha novo sentido.
A felicidade também tem
muito a ver com a atitude face aos problemas e preocupações, que estarão
sempre presentes nas nossas vidas de uma forma ou de outra. Ora, é nestas
situações que uma atitude positiva e uma esperança contínuas ajudam muito
mais que uma atitude pessimista, que emerge em nós quando nos fechamos em
nós próprios proporcionando uma visão «amarga» da existência.
Ser feliz não é um estado de
ânimo momentâneo, é uma atitude constante. Ser feliz não é querer o
impossível, mas sim o possível. Dizia um filósofo antigo: «Se não podes o
que queres, quer o que podes.» (António
Pinela, Reflexões, Junho de 2005).
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