O século das Luzes
assistiu à sucessão de extraordinários fenómenos. Viu a ciência
alcançar progressos bem definidos, maravilhou-se com o
brilhantismo das Artes e com o esplendor das Letras, enquanto
nos salões parisienses via agitarem-se ideias que inspiraram a
Revolução Francesa de 1789 e apreciava a era industrial a
desabrochar nas minas de hulha da antiga Albion. Um mundo
acabava: o ancien régime; outro começava: o mundo
moderno (no sentido de diferente, de inovador). Um mundo em
que a crítica ganha foros de cidadania e a tolerância passa a
ser considerada, na medida em que o homem ganha consciência de
que o progresso não é possível sem que estes elementos (crítica
e tolerância), a par da liberdade, tenham lugar.
Este tipo de
pensamento, que se desenvolve no século XVIII, pretende
introduzir mudanças no seio da governação, no sentido das
transformações sociais. Rousseau é um espectador e um actor
atento a tais mudanças ou intenções, mas nem sempre estas são do
agrado do filósofo que escreveu o Contrato Social, por
isso entrará em desacordo, senão mesmo em ruptura, com alguns
pensadores seus coetâneos.
Seja como for,
este filósofo, que alguns chamam de controverso pelas posições
que tomou em vários momentos da sua vida, contribuiu
significativamente para aquelas mudanças. Ele terá mesmo
inspirado os revolucionários de 1789.
Um dos fenómenos
que preocupava os homens das Luzes era a constatação das
profundas desigualdades existentes entre os homens. A Rousseau
não é alheia esta problemática, tanto assim que lhe dedica o seu
segundo Discours. É precisamente esta sua obra, assim
como a temática das desigualdades que constituem os ingredientes
que nos motivam a escrever sobre as «Causas e consequências da
desigualdade entre os homens». Consequentemente, serve-nos de
informação e base de reflexão o Discours sur l'origine et les
fondements de l'inégalité parmi les hommes de Rousseau.
Quanto aos
objectivos do presente trabalho, pretendemos identificar,
primordialmente, as causas que, na perspectiva de Rousseau,
provocaram a profunda desigualdade que (ainda) se faz sentir
entre os homens, bem como a objectivação do seu resultado.
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