Provérbios |
|
Pelo seu significado
tradicional, os provérbios memorizam-se facilmente e são usados, não
só pelo povo que os cria, mas também por políticos, literatos,
pensadores e outros que, a seu modo, os incluem nos seus discursos
(falados ou escritos), a fim de, como também diz o povo, «puxarem a
brasa à sua sardinha».
A Filosofia espontânea também
se manifesta nos provérbios, que são considerados sentenças que
veicula mensagens de alto significado.
Os provérbios que aqui damos
como exemplo, transmitidos de geração em geração, são ditos
para justificar acções, fundamentar comportamentos ou mesmo
situações, tanto a nível do quotidiano como a nível intelectual. |
|
|
Vejamos
alguns exemplos: |
|
|
|
|
Provérbios causais
Alguns provérbios pretendem
encontrar uma causa, a fim de justificar uma realidade,
como estes:
«Filho de peixe sabe
nadar».
«Língua comprida,
mentira maior».
«Por causa de alguém
não se fia a ninguém».
«Quem cochicha rabo
espicha».
«Quem não tem cão caça
com um gato».
«Quem nasce p’ra pobre
nunca chega a rico».
«Quem sai aos seus não
degenera».
«Se bebes para esquecer
paga antes de beber».
Em todos estes provérbios se
encontra alguma causa que pretende justificar o seu
efeito. E a causalidade é um tema profundo da prática
filosófica. |
|
Provérbios que exprimem
desespero e pessimismo
Examinemos estes provérbios
que evidenciam um certo desespero e mesmo pessimismo perante a vida:
«Grande nau, grande
tormenta».
«Quando o mal é de morte, o
remédio é morrer».
«Uma desgraça nunca vem
só».
Estes provérbios exprimem uma
disposição natural que a maioria das pessoas têm para ver o lado mau
das coisas, os riscos de malogro. É a doutrina segundo a qual
(defende Schopenhauer), no Universo, o mal prevalece sobre o bem. |
|
Provérbios que exprimem
solidariedade
Há provérbios que fazem apelo
à solidariedade humana, como estes:
«A união faz a força».
«Fazer bem sem olhar a
quem».
«Não faças aos outros o que
não queres que te façam a ti».
«Nas necessidades é que se
conhecem os amigos».
Estes provérbios enquadram-se
numa reflexão de valor ético-moral. |
|
Provérbios que indicam
conhecimento ou ignorância
É interessante verificar o
conteúdo dos provérbios que indicam sabedoria, conhecimento e
bom senso. É bom que nos atenhamos um pouco neles, como estes:
«A experiência é o espelho
da inteligência» (Provérbio árabe).
«Dá Deus nozes a quem não
tem dentes».
«De livro fechado não sai
letrado».
«O sábio sabe que sabe, o
ignorante pensa que sabe» (Provérbio espanhol, que faz lembrar
Sócrates).
É interessante atermo-nos,
frequentemente, nestas sábias sentenças. |
|
Provérbios que indicam
possibilidades individuais
Diferentes no seu sentido,
mas de valor prático similar, estas sentenças mostram uma certa
persistência na acção, tranquilidade existencial, e dizem respeito à
experiência concreta da existência vivida e, ainda, à intelecção das
possibilidades individuais:
«Água mole em pedra dura
tanto dá (bate) até que fura».
«Cada qual puxa a brasa à
sua sardinha».
«Desmanchar e fazer, tudo é
aprender».
«Grão a grão enche a
galinha o papo».
«O dinheiro não cai do
Céu».
«Quem tudo quer, tudo
perde».
«Vale mais um pássaro na
mão do que dois a voar».
Que acha destes provérbios? |
|
Provérbios que indicam
prudência
Provérbios
ricos em ensinamentos retirados da experiência do saber fazer
e do saber viver.
«Antes quero asno que me
leve que cavalo que me derrube».
«As paredes têm ouvidos».
«Diz-me com quem andas,
dir-te-ei quem és».
«Não peças a quem pediu nem
sirvas a quem serviu».
«Se queres
bom conselho, pede-o ao velho».
Pois é... Mas
há uma certa juventude que acha que os velhos nada têm para ensinar!
Será mesmo assim? |
|
Provérbios relativos ao tempo
Muito ricos de significado
são os provérbios de simbologia meteorológica ou temporal:
«Água de Agosto, açafrão,
mel e mosto».
«Ande o frio por onde
andar, pelo Natal há-de chegar».
«Camisa de seda em Janeiro
é sinal de pouco dinheiro».
«Em Abril, águas mil».
«Lua nova trovejada 30 dias
é (será) molhada».
«No dia de S. Lourenço vai
à vinha e enche o lenço».
«Pelo S. Martinho vai à
adega e prova o vinho».
«Quando florir o maracotão,
os dias iguais são».
«Quando não chove em
Janeiro, nem bom prado nem bom celeiro».
Não seria mau de todo dar
alguma atenção a este tipo de sabedoria popular. |
|
Estes provérbios populares
como, aliás, todos os outros, revelam um tipo de conhecimento
denominado «senso comum», apanágio da maioria das pessoas para quem,
apenas, o espírito prático conta.
Como não é difícil verificar,
os provérbios, considerados sabedoria popular, estão longe de
enunciar princípios universais. Expressam, não um conjunto
indiscutível de conhecimentos criticamente elaborados, que se
manifesta universalmente, mas um conjunto incompleto de «actos de
conhecimento» que se aplicam em cada instante concreto e que, na
grande maioria dos casos, apenas são utilizados como analogias
(de forma intelectual) ou como exemplo moral ou de
previsão (conforme a tradição popular). |
|
Outros
Provérbios |
Tendo presente os múltiplos sentidos que os provérbios anteriores
evidenciam, verifique agora a riqueza de significados que os
provérbios a seguir encerram: |
Amigo do meu amigo meu amigo é.
Ao menino e ao
borracho põem-lhe Deus a mão por baixo.
Apanha com o cajado quem se mete onde não é chamado.
Cada
terra com seu uso, cada roca com seu fuso.
Cada
um sabe de si, Deus sabe de todos.
Guarda que comer, não guardes que fazer.
Junta-te aos bons, serás como eles. Junta-te aos maus, serás pior
que eles.
Mais
vale tarde do que nunca.
Não
é com vinagre que se apanham moscas.
Não
há fome que não dê em fartura.
No
poupar é que vai o ganho.
Os
homens não se medem aos palmos.
Para
bom entendedor meia palavra basta.
Para
grandes males, grandes remédios.
Quem
canta seu mal espanta, quem chora seu mal adora.
Quem
conta com panela alheia fica quase sempre sem ceia.
Quem
conta um conto acrescenta-lhe um ponto.
Quem
diz o que quer ouve o que não gosta.
Quem
meu filho beija minha boca adoça.
Quem
o feio ama bonito lhe parece.
Quem
muito dorme pouco aprende.
Quem
quer vai, quem não quer manda.
Quem
semeia ventos colhe tempestades.
|
|
|